terça-feira, 6 de julho de 2010

We are each a beautiful snowflake that will melt in Hell

Hoje teremos um texto por Mateus, cujos interesses incluem reclamar, achar defeitos em tudo e escrever textos gigantes.
 
Bio: Especial, com sonhos, gosta de se divertir. Descrição: Altas esperanças, feliz, único.
Você é único. Você é especial. Você vai ser alguém na vida e você vai fazer alguma diferença. Você resiste a modinhas. Você é um indivíduo separado dos outros, com gostos únicos e pensamentos próprios. Você não é influenciado pela mídia e forma suas próprias opiniões. Você não é manipulado por uma religião ou pela classe dominante, e você não segue a rotina.

O problema é que ou todos são especiais e únicos, ou ninguém é tão especial e único assim. Encare o fato que você segue modas e tem comportamento de bando para se encaixar. Encare o fato que talvez você não seja tão diferente dos outros como pensava, e que seus gostos e pensamentos são meramente espelhados em pessoas que você admira, ou até mesmo pessoas do cotidiano. Encare que suas opiniões são provavelmente formadas por algum especialista de São Paulo ou televangelista no Rio de Janeiro, e suas idéias, uma citação de algum filósofo que já morreu. Encare o fato que a religião e ideologias em que você foi criado muito provavelmente irão influenciar suas decisões futuras e encare o fato que você é um robô da rotina, sim, na maioria dos seus dias. Pelo Amor, todas as nossas ações se refletem na rotina, e aqueles que não a seguem são ditos desleixados, preguiçosos ou bêbados.

Bêbados, aliás, porque o simples entender desses fatos cria uma sensação de impotência em face do futuro, o que leva a pessoa a querer se divertir enquanto há tempo. Carpe diem, dizem. Carpe diem, porque a vida é curta, e a morte, certa. Carpe diem, porque todo mundo te diz o que você deve fazer para ter uma boa vida, e nenhuma das alternativas parece boa o suficiente e todas parecem ser vagas. Algumas delas incluem: Ser feliz, ser rico, ser famoso, ter uma família, ter uma crença, ter um emprego, ser uma boa pessoa, amar. Crises nascem quando a meta principal de certa pessoa não se cumpre até o tempo que ela pensava que já as teria alcançado. Carpe diem, porque ninguém fez um manual de instruções para a vida.

Talvez eu esteja errado. Não tenho muita experiência de vida, afinal. Talvez eu esteja vendo a realidade através de olhos manchados pela opinião equívoca de alguém que só observou os acontecimentos do lado de fora. Olhos manchados, mas olhos de uma geração que, durante anos, foi dita por pais e professores que um dia seria melhor que todo mundo, e que seria a geração que salvaria o mundo manchado pelas mãos de inúmeras gerações passadas. A geração que poderia ser o que quisesse, e seria feliz. Uma geração de pessoas inteligentes, que faria a diferença, que traria felicidade e conhecimento ao novo mundo, um mundo de amor e união.

Talvez as coisas realmente mudarão e são pessoas com pensamento como o meu que atrasam o progresso. Talvez as pessoas realmente lutem contra a rotina de um modo benigno e tenham idéias novas, filosofias positivas, e talvez sejamos mesmo a geração que trará mudança ao mundo. E esse pensamente é confortante, e fique sabendo, caro leitor que, por mais cético que sejam meus ideais, conflitos internos ainda me assombram. Por exemplo, Deus não existe, mas acredito Nela. Não acredito no Amor, mas estou amando. Vai entender.

2 comentários:

  1. É reconhecível facilmente o Mateus por trás deste texto. Facilmente.

    Não pelo cético que acredita ser e que não é, por que, como bem disse, todos são criados dentro de ideologias, dentro de modas, dentro de famílias, ou pelo menos dentro de rotinas. E à rotina todos devem se submenter.

    Ainda que a rotina seja feliz. Nao tem problemá. só existe uma única possibilidade pior que um dia triste e cético depois de um dia triste dia e cético: um dia feliz depois de outro dia.

    É mais fácil ser cético (ou pelo menos simular ceticismo. O pessimismo sempre foi mais valorizado que o otimismo. Observem as pessoas que discutem Nietsche e Dostoievsky. ou são eternamente depressivas, ou são....deixe estar.
    São opiniões de filósofos.... mortos, antes de tudo. E não fizeram tanta diferença, fizeram? Quer dizer, além de incentivar todos a vestir preto e a viver como se estivesse em um funeral e esconder-se sob silogismos latinos árcades. Chega a ser um tédio, não?

    E, sim, Mateus, todos anos entram gerações que salvarão o mundo e serão mais felizes. Mentira: eu já fui dessa geração... Não sou mais! Eu cresci um pouco e as pessoas falam demais de maneira que faz-se parte de um grupo por discursos com a mesma velocidade com que se sai de grupos por outros discursos.

    E se descobre que, no fundo, existe muita gente falando para se chegar a um consenso e encare: se a rotina nao te devorar, seu emprego o fará, e, se não for ele, o amor te consumirá. Claro, se você acreditar em amor legitimo. Duvido de que algupem seja capaz de amar.

    Suspeito que o amor seja apenas um hormônio.

    Cansei.

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  2. Daniel,

    Suas suspeitas quanto à essência do amor são as que provavelmente mais se assemelham à real natureza do amor, do ponto de vista que o amor, como qualquer emoção, é uma resposta biológica. Hormônios, e só isso.

    Quer dizer, aquilo que chamamos de amor. Palavras são equívocas, e não podemos procurar um significado claro, objetivo e universal para amor, podemos fazer uma média de significados que são aproximações do sentimento individual de cada um e imprimir essa definição no dicionário. Definir o que vemos é (em alguns casos) relativamente fácil, definir o que sentimos é mais complicado, se não impossível.

    Creio que o amor tem sido o assunto principal da maioria das obras e todo o tipo de expressão artística Ocidental moderna. Inúmeros poetas, artistas plásticos, músicos, diretores de cinema e toda a corja de artistas imaginável já tentaram definir o infame sentimento, sem sucesso considerável.

    E claro, o amor como tratado em filmes e outras obras de ficção não poderia ser nada além de ficção.

    Todavia, nada nos impede de apreciar um coquetel de hormônios, se aproximar muito de uma pessoa, e chamar aquilo de amor. Não digo amor sincero, amor verdadeiro, porque seres humanos, creio eu, não conseguem ser completamente sinceros e verdadeiros, portanto suas emoçoes também não o conseguiriam.

    Concluo dizendo que, ao contrário da mensagem que Lennon tentava passar, nem tudo que precisamos é o amor, mas ainda assim é uma boa coisa de se ter por perto.

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